segunda-feira, 5 de julho de 2010

Words

Quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis. Remexe o cérebro e elas vêm, não raras, mas toneladas. Deixam sempre um gosto de poeira na boca - a poeira que se tentava expressar, e elas se dissolveram. Quanto mais palavras ocorrem para vestir uma ideia, mas essa ideia resiste a ser identificada. As sucessivas roupas sufocam sua nudez. E todas as palavras são uma grande bolha de sabão, às vezes brilhante, mas circundando o vazio.
Ah se eu pudesse escrever com os olhos, com as mãos, com os cabelos - com todos esses arrepios estranhos que um entardecer de outono, como o de hoje, provoca na gente.

Caio Fernando Abreu

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